06 outubro 2011

In the Sky

Em cinco dias, uma overdose de filmes. Da açao vertiginosa Salt ao cabeça A serious man, passando pelo impactante Under Dog. Meu investimento no pacote de filmes da Sky foi um dos melhores que fiz nos ultimos meses. Em apenas cinco dias, uma maratona de filmes que me fez perguntar: por que eu fiquei tanto tempo assim longe do cinema? O que aconteceu comigo?

Sempre vi muitos filmes, sempre fui um fa inveterado de cinema. E nos ultimos meses acabei me afastando um pouco desta arte que tanto mexe comigo. Obviamente porque os ultimos meses foram extremamente tumultuados. Retomar esta relaçao estreita com o cinema me deixou feliz.

Sabe a sensaçao de reencontrar um amigo que voce nao ve ha muito tempo? Estou me sentindo assim. Passei minha vida assistindo filmes, indo ao cinema. Alias, ir ao cinema sempre foi, de longe, um dos meus passatempos preferidos. Desde assistir grandes blockbusters, como Titanic ou Jurassic Park (sim, eu vi Jurassic Park, os tres, no cinema!), até mesmo filmes mais alternativos, como um italiano que nao consigo me lembrar o nome que fui conferir no Espaço Unibanco da Augusta, uma sala minuscula que cabiam, no maximo, 20 pessoas.
Vi filmes em cinemas modernos e também em historicos – nada, nunca, superara assistir "Cazuza" em um cinema de Ouro Preto, em Minas Gerais, um antigo teatro com uma acustica ruim, mas que tinha uma aura de coisa antiga, tradicional. Imagine quanta coisa aqueles palcos ja presenciaram...
Aqui na Italia, os filmes no cinema tem intervalos. Param no meio, como nos grandes musicais no teatro. Isso para o pessoal ir no banheiro, comer alguma coisa. Alias, cinema aqui è diversao cara. Ingressos a 8 euros. Mais ou menos o que se paga no Brasil, se voce nao consegue qualquer tipo de desconto – saudades da sessao das 15h do Cinemark, onde voce assiste grandes produçoes por apenas R$ 4,00.
A paixao pelos filmes me tornou também em um frequentador assiduo de videolocadoras. Da pequena, mas muito bem servida, locadora do bairro, a mega (e agora decadente) Blockbuster, que me facilitava muito a vida com os horarios de abertura e fechamento, sempre ficava babando e indeciso com todos os lançamentos.
Ja fiz loucuras de alugar 10 filmes para ver num unico fim de semana. Quando era pequeno, gostava de ver o mesmo filmes duas vezes, pois assim conseguia gravar melhor a historia na minha cabeça- Alias, quando era menor, o que mais eu gostava era de assistir os filmes da Turma da Monica, em fitas VHS. E, logico, todos os desenhos e filmes da Disney.  Alguns filmes eu gostava tanto que assistia dezenas de vezes até decorar as falas, como Olha Quem Esta Falando (dias atras, num ataque saudosista, comprei o DVD).
Crescendo, fui descobrindo o poder de um bom suspense e de um filme de terror. Um dos meus preferidos até hoje è O Exorcista, pesado, forte e assustador. Dai fui descobrindo os diretores. Almodovar, Tarantino, Allen, Spielberg, Van Sant, Kubrick, os irmaos Coen… Cada um com seu estilo, cada um com seu ponto de vista e forma de contar historias. Destes, Tarantino è o meu preferido, principalmente por sua pegada pop. Suas trilhas sonoras sempre sao otimas – as de Pulp Fiction e Kill Bill sao impagaveis.
Hoje, gosto e vejo de tudo. Dos dramalhoes que te fazem sofrer junto aos personagens, como o forte A Casa dos Espiritos (que reune duas das atrizes que mais gosto, Meryl Streep e Winona Rider) e Pequena Miss Sunshine (com a sempre otima Toni Collette) , aos instigantes, como a Origem (sera que peao caiu ou nao?), até os musicais, como Chicago e Mamma Mia!, que te deixam cantarolando por dias…
Nao tenho esta frescura de somente gostar dos filmes ditos alternativos, com cenas de 10 minutos sem uma açao ou nenhuma fala. Nao critico Hollywood, mesmo com a tao discutida crise de criatividade dos ultimos tempos. Assim como musica e outros tipos de arte, tem espaço para todo mundo, tudo tem seu publico e seu valor. E, segundo a minha modesta opiniao, se emocionou, esta valendo.
Filmes de guerra, agua com açucar, documentarios, personagens de historia em quadrinhos, suspense, infantis… Tudo passa pela minha frente. Tudo eu vejo. E impressionante como a grande maioria mexe comigo. E dai, pensando nisso, eu volto a me perguntar: como eu fui ficar tanto tempo longe deste universo que me comove tanto? Que conversa tao abertamente comigo? Que me ajuda a entender o mundo e que, de alguma forma, ajuda a me moldar?
Fico feliz de ter reencontrado esta velha paixao, de ter redescoberto algo que me faz bem. Um filme sempre é bom. Te faz sofrer, torcer, chorar, rir… Mexe com suas emoçoes e te chacoalha. Faz pensar, ou simplesmente te faz relaxar. Arte é isso, é despertar emoçao. E eu realmente me deixo emocionar pelos filmes que vejo.
Estou reapaixonado pelo cinema. Um amor totalmente correspondido.

20 setembro 2011

Não pague nada e leve três

Sabe aquelas promoções “pague um e leve dois”? Pois é, no meu caso foi “não pague nada e leve três”! Isso mesmo. E como valeu a pena.

Ganhei um bilhete de trem que poderia ser usado diversas vezes, sem limite de viagens, durante todo um fim de semana, em viagens de trens pela Lombardia, região da Italia onde fica Milão. A tal promoção foi feita pela Trenord, empresa que administra os trens da região.

Bilhete na mão, fizemos uma pesquisa pelas cidades aqui perto que gostaríamos de conhecer. E, dentre tantas opções, ficamos com duas: Pavia e Bérgamo. Ué, mas eu não falei que tinha levado três na tal promoção? Calma, já explico.
No sábado, pegamos o trem bem cedo aqui em Milão e fomos para Pavia. O trem não era lá grandes coisas, todo pichado e sem ar condicionado. Depois de 40 minutos, desembarcamos em Pavia, uma cidade bem simpática. Como quase toda cidade italiana, tem castelo, rio, igrejas, ruas medievais com lojinhas. Não muito grande, não muito pequena. Em quatro horas, giramos ela inteira. Muitos pernilongos e pássaros. Aliás, quando comentei com algumas pessoas que iria até Pavia, as recomendações sempre giravam em torno de muito Autan. Não estavam errados: mal chegamos por ali, tivemos que achar um mercadinho (um bom e velho Carrefour) e comprar citronela.
No nosso circuito pela cidade, passamos por algumas igrejas. A mais bela, a de São Pedro, que foi a primeira que visitamos, guarda o corpo de Santo Agostinho. Chegamos ali no meio de uma missa e ficamos esperando terminar para chegar próximo ao altar. As missas aqui geralmente nunca estão lotadas. Primeiro porque o número de igrejas, em qualquer cidade, é sempre enorme e também porque a quantidade de missas é igualmente gigante.

De lá, fomos caminhando até o parque e o castelo. Bonitos e imponentes, estavam sendo sobrevoados por uma quantidade surpreendente de pássaros, o que rendeu um espetáculo a parte. De la, passeamos pelo centro da cidade, até chegar ao rio que corta Pavia e forma o parque Ticino, que engloba uma região gigantesca do norte da Itália até a Suíça.
No rio, uma descoberta interessante foi a Ponte Coperto.  E um cachorrinho simpático, enorme, que estava passeando com sua dona, elegantemente vestida. Ambos se embrenharam no mato ao redor do rio.

No domingo, fomos para Bérgamo, cidade que abriga um dos aeroportos que servem Milão. A cidade é dividida em duas partes: Bérgamo baixa e Bérgamo alta – entendeu porque levamos três? As duas Bérgamos são bem diferentes: a baixa, que se abre logo quando se chega com o trem, é mais moderna, com ruas e avenidas largas, prédios e comércio novos. A alta, que se alcança com uma espécie de trem-bondinho, que sobe morro acima, chamado funicolare, é toda medieval, circundada por um muro que a protegia.
Lá em cima, ficamos vagando pela cidade. Obviamente, algumas praças e igrejas. E, como sempre, entramos para visitar a principal igreja da cidade bem no meio de uma missa – esta impressionantemente cheia. A igreja era enorme e linda. Detalhe que um dos poderosos da cidade, séculos atrás, mandou derrubar uma parte da igreja para construir, em sua homenagem, uma capela, onde seu corpo descansa em paz até hoje. A tal capela destoa totalmente do resto, mas é interessante.

Depois de passear pelas ruinhas da parte alta, comer um pé de moleque tradicional daqui feito com amêndoas (e quebrado na mão pela vendedora...), pegamos outro funicolare e subimos um pouquinho mais para o topo do morro. De la , uma vista magnífica da região, além de um vento ótimo que refrescava um pouco o calor – deveríamos estar, no mínimo, com 30 graus na cabeça durante todo o dia.
La em cima, paramos para comer ao lado de uma imensa família que fez um piquenique ao nosso lado, no melhor estilo “fiz tudo em casa e trouxe na mochila” – estilo, ao qual, invariavelmente adotamos nas nossas viagens. Economiza tempo e dinheiro.

De lá, voltamos a pé até a estação de trem, uma caminhada de quase uma hora, mas que fizemos de boa, afinal, pra baixo todo santo ajuda...
Foi um fim de semana ótimo, não muito cansativo, mas de muitas descobertas. A Itália é boa por isso, tem uma rede ferroviária interessante que te leva para todos os cantos possíveis. E com pouco investimento se conhece verdadeiras jóias. Pavia e Bergamos (sim, no plural!) são duas delas.

Ah, e ganhamos outro destes tíquetes gratuitos. Nosso programa incluiu Mantova, Cremona e Arona, de onde conhecemos o Lago Maggiore. Mais uma edição da promoção “não pague nada e leve três”. Detalhes, em breve, neste mesmo canal.

26 julho 2011

Jack Johnson e a mudança de impressoes

Minha sensaçao nao era exatamente a mais positiva. Nem a primeira impressao. Assim que descemos do trem e começamos a caminhar a pé em direçao ao hotel, cerca de 1,5 km distante, comecei a ficar nervoso naquela pequena cidade.
A estaçao de trem nao ajudava muito. Depois, algumas pequenas ruas, que cortavam os bairros residenciais, que era um atalho até chegar ao tal unico hotel que consegui descobrir no lugar. Começamos a caminhar e, depois de poucos minutos, cruzamos com um senhor, que nao sabiamos se estava bebado ou se era louco, mas que começou a gritar coisas confusas e indecifráveis enquanto nos seguia. Apertamos o passo e chegamos, depois de 20 minutos cravados, ao nosso mega hotel.
Depois dos procedimentos de check-in com uma recepcionista muito simpatica (nao estou sendo ironico, ela realmente era uma pessoa educada), largamos as coisas no quarto e saimos. O hotel era modesto mas funcional, apesar da distancia do centro da cidade e da estaçao. Limpo, com quarto espaçoso e estacionamento – que para nos, nao fazia muita diferença, ja que, como voce ja percebeu, estavamos a pé.
E a pé fomos para o centro da cidade. Mais 20 minutos de caminhada pela principal rua. Domingo a tarde, tudo fechado, nenhuma alma. E a tal ma impressao inicial continuava ali, firme e forte. Que cidade estranha! E tinha recebido tantos elogios e referencias… Sera que estava no lugar errado? E todos os turistas e visitantes que deveriam estar ali abarrotando as ruas?
Enfim, apos passar por um simpatico parque, nao tao grande, mas com um laguinho, cheio de patos, gansos e afins, chegamos ao tal centro. Ai a primeira impressao que tivemos começou a se desfazer. O lugar, formado por uma enorme praça ao lado do famoso castelo da cidade, era fantastico. Lotado de gente, era cheio de lojas, cafés e ruinhas com transito bloqueado para carros. Sentia-me num parque de diversoes, sabe Hopi Hari? Pois é. Tudo perfeitinho, arrumadinho, bonitinho, com flores e pessoas elegantes passeando. O dia ajudava muito, com um sol que nem esquentava demais e nem deixava esfriar, além de um céu azul daqueles de fazer pular de alegria qualquer diretor de fotografia de filme.
O nome da cidade: Vigevano. E por que estavamos ali? Por uma simples e otima razao: um show do Jack Johnson!
Como voce percebeu, foram muitos pequenos sacrificios para ver Jack domingo passado. Alem da posiçao nada estratégica do hotel e também os horarios malucos que tivemos que fazer em plena segunda-feira (caimos da cama as 5h da madrugada!), caminhamos muito nestes dois dias. Mas valeu a pena, e como valeu.
Primeiro, pelo lugar do show. Um castelo! Isso mesmo, foi a primeira vez que vi um show num castelo. E parecia também que era a primeira vez que Jack e sua trupe cantavam em um. O local nao era nada parecido com os castelos que temos na nossa imaginaçao – e nem se parece com outros, bem reais que ja tive a oportunidade de conhecer pessoalmente. Este, de Vigevano, esta bem corroido e mau cuidado. Janelas enormes viararam apenas buracos, sem vidros nem nada. 

O show foi no patio interno, parte de um festival que trouxe para a cidade outros nomes internacionais, como o Black Crowes. Entramos ali por volta das 18h30 e ficamos esperando – o show começaria mesmo so tres horas depois. Neste meio tempo, o sol se foi e chegou um vento forte, fazendo muita gente, incluindo a gente, bater os dentes de frio.
Como show de abertura, uma boa surpresa: Kaki King. Nunca tinha ouvido falar dela, mas me chamou a atençao pela forma como ela consegue domar guitarras e violoes. Fantastico! Tudo bem que, depois de 10 minutos, se tornou meio cansativo.
As 22h, mais ou menos, surgiu Jack Johnson. Sem grandes produçoes, simplesmente subiu ao palco, seguido de sua banda. Assim, simples. Uma da primeiras musicas foi “Taylor”, do seu segundo album, “On and On”. E me ganhou naquele momento. Eu e todo mundo que estava ali. Divertido ver tanta gente cantando suas musicas, até as mais desconhecidas. Muito marmanjo da minha idade, a grande maioria acompanhado de suas respectivas garotas (namoradas, rolos, esposas e afins), dançando, batendo palmas, feliz. O clima era de festa, e eu cai de cabeça nela.




Ha cinco anos que tinha vontade de ver um show do Jack Johnson. Quando ele se apresentou pela primeira vez no Brasil, nao consegui ir… Neste ano, quando descobri que novamente ele faria uma serie de apresentaçoes na America do Sul, fiquei desconsolado por, mais uma vez, nao poder ir, desta vez por um pequeno detalhe geografico: um oceano nos separava.
Eis que, alguns dias depois, descobri este show em Vigevano. Corri e comprei o ingresso, tres meses atras. Desta vez, eu iria. Nao sabia como chegaria na cidade, nem como me viraria depois, ja que estou sem carro e a apresentaçao era num domingo a noite. Mas, pensei, damos um jeito! Sabe aquela coisa do universo conspirar, pois è, foi tudo perfeito.
Curto Jack ha muito tempo, desde que seu hit “Times like these” bombou no Brasil por volta de 2004. Depois disso, viciei em seu trabalho. Por um simples motivo: as musicas de Jack Johnson sao como bombas de endorfina. Independente do que esteja acontecendo, se escuto, tudo passa e fica bem. Sou subitamente sequestrado e jogado numa praia, num clima de festa, tranquilidade, paz de espirito. Quer coisa melhor?
E foi tudo isso que senti no seu show. Nao rolou “Times like these”, mas tantos outros sucessos como “Upside down” e “If I had eyes” estiveram presentes. “Better togheter” encerrou a apresentaçao, na sua volta para o bis, onde apareceu no palco sozinho, sem seus amigos – que, alias, também mandam muito bem. O seu tecladista, Zach Gill, è um showman. Canta, toca, dança e empolga a plateia, com um ar de tio mais velho, daqueles que voce sempre torce que va na sua casa (tomara que eu vire um assim…).
Com o tal castelo de cenario de fundo, uma noite absurdamente estrelada e uma plateia nao muito abarrotada, o show foi, sem duvidas, um dos melhores que vi na vida. Indicio 1: ao contrario do que geralmente acontece, nao fiquei impaciente quando ele tocou musicas que eu nao conhecia, mais recentes, simplesmente porque também eram otimas e mantinham aquele climao alto astral. Indicio 2: mesmo tendo que andar tanto, me banhar de Autan para enfrentar nuvens de pernilongos e cair da cama em plena segunda-feira as 5 da madrugada, estou ainda me sentindo absurdamente feliz.
Jack è um cara bacana. Doou todo o lucro desta sua turne para alguns projetos. Diz ja ter dinheiro suficiente para ele e sua familia. Este seu jeito leve, e ao mesmo tempo engajado, de encarar e levar a vida se reflete nas suas musicas, no seu show. Ah, ainda nao falei que ele estava de chinelo no palco? Por alguns longos minutos, parecia que eu estava em alguma praia, longe de qualquer problema, eu e minha garota. Faltavam apenas os amigos e a familia.
Foi um domingo bacana. E a ma impressao que tive ao chegar em Vigevano se dissipou, como nuvens que vao embora depois da tempestade. Talvez eu nunca mais retorne ali ou mesmo nunca tivesse cogitado a ideia de visitar esta cidade se nao fosse por Jack Johnson, mas ainda bem que tive esta desculpa.
A primeira impressao é a que fica? Nem sempre.

28 fevereiro 2011

Uma garota californiana em Milao


O primeiro show a gente nunca esquece… O meu, pelo menos, eu nao esqueci. Tirando um do Bozo que vi quando era bem pequeno, com meu pai numa praça perto de casa, um show mesmo, de verdade, que considero como o meu primeiro, foi um do Ira!, que minha minha irma ajudou a organizar. Fora o fato de que eu assisti o show do palco, nao curti muito: o pessoal queria invadir o palco, nao tinha segurança suficiente, eu nao conhecia quase nenhuma musica… Enfim, foi minha primeira experiencia com o show business. E que experiencia!

Mas nao estou aqui para falar do Ira!. Quero falar de primeiros shows. E na semana passada fui no meu primeiro show aqui em Milao. Katy Perry. Foi a primeira vez dela na Italia e a segunda apresentaçao da sua mais nova turne, “California Girls Tour”, baseado no seu ultimo CD, “Teenage Dream”, lançado no ano passado.

Comprei o ingresso ano passado, em novembro, e eles esgotaram das bilheterias. Também pudera: Katy Perry emplacou, nos ultimos meses, tres singles em todas as radios, inclusive aqui na Italia, dois dos quais tocam incansavelmente ate agora, “Teenage Dream” e “Firework”, cujo clipe è sensacional (a menina gordinha feliz na piscina e os fogos saindo do peito de Katy sao impagaveis). Alias, “Firework” tem uma pegada dançante otima, uma explosao que empolga qualquer um, bem no ritmo de seu titulo. Ja “Teenage Dream”, com sua letra provocante, fala diretamente da e para a meninada.

O show foi impecavel, todo coreografado, com bailarinos e uma historinha, que lembrava um pouco a de “Alice no Pais das Maravilhas”. Na versao de Katy, ela é uma menina que trabalha num açougue com um chefe mal e se apaixonava pelo padeiro. A noite, ao se deitar e dormir, começa a sonhar o tal “Teenage Dream”. Seu gato foge pela janela e ela , ao correr atras, cai em um mundo paralelo. E neste mundo rolam algumas situações enquanto ela procura seu gatinho, sendo as desculpas para encaixar as musicas.

Katy começou seu show cantando “Teenage Dream”, seguido por milhares de vozes adolescentes e estridentes que lotaram o ginasio com seus cartazes, faixas, perucas azuis, verdes e rosas, e orelhas de gatinho piscantes. As vezes, era possivel achar que voce tinha ido ver algum show de uma estrela da Disney, e nao de Katy Perry, que surgiu no mundo pop cantando musicas com letras um tanto polemicas, onde tinha beijado uma garota ou que chamava seu namorado de gay por ele se importar com a aparencia muito mais do que ela.

O show tem mais musicas do ultimo CD do que o do primeiro, “One of the boys”, lançado em 2008. Ao começar a cantar “I kissed a girl” numa roupagem mais intimista, fiquei decepcionado, pois a melodia original possui uma força incrivel, que queria prova-la ao vivo. Por sabia decisao, e para minha sorte, a tal versao intimista nao sobrevive a musica inteira, que se transforma na metade, dando lugar a guitarras e baterias. Ufa…

Por falar em intimista, o meio do show foi marcado por um momento voz e violao onde, além de se auto-declarar uma nerd, canta a musica de Rhianna “Only girl (in the world)” e também o neo-sucesso de Willow Smith, filha do Will Smith, “Whip my hair”. Novamente, a meninada surta, obviamente. Uma boa decisao para agradar mais ainda os presentes.

Uma das musicas que mais gosto de Katy è “Hot’n’Cold” , do primeiro CD. O clipe è engraçado, a letra è divertida e a melodia è pulsante, curto muito. Por isso, era uma das musicas que eu mais queria ouvir. E quando ela chegou, exatamente igual ao CD (ainda bem!), veio junto uma surpresa. Logo no começo da musica, Katy canta “You change your mind like a girl changes clothes”. Usando isso como deixa, ela deve ter se inspirado na comissao de frente do desfile da Unidos da Tijuca de 2010 e usou aquele truque de trocar de roupas “instantaneamente”. Quem nao se lembra do que eu estou falando, veja este video. Katy entrava num tunel de um lado e saia do outro com um vestido diferente. Ate aquela cabine que o pessoal da Unidos da Tijuca usou, que puxava uma cortina pra cima, era igual. E, com isso, Katy Perry trocou, em cima do palco, diversas vezes de roupas – eu perdi as contas. Isso durante apenas uma musica! E o resultado foi o esperado, o publico espantado com aquela “magica”. Novidade para eles, nem tanto para nos brasileiros. Mas ficou bem encaixado no show. Boa ideia!

A apresentaçao seguiu e terminou por volta das 23h com ela cantando “Firework” e “California Girls”. Confesso que eu esperava que houvesse algum espetaculo com fogos no palco na hora de “Firework”, mas nada. Uma comida de bola da produçao, que poderia ter causado um impacto grande, copiando a ideia do clipe. Mas o show foi bom, valeu a pena ter ido, mesmo eu nao estando muito no clima por conta dos ultimos acontecimentos.

Sobre a minha experiencia mesmo, alguns pontos positivos e outros negativos. Primeiro, descobri um dia antes, sem querer, que a organizaçao do show (Live Nation) tinha mudado o local do show. Como nao estava por aqui, eu nao sabia. Quase fui para a casa de show errada… Nunca vi isso de mudar local de show. A desculpa foi que a procura foi maior. Por sorte, o novo lugar, chamado Mediolanum Forum, numa cidade vizinha de Milao chamada Assago, ganhou uma estaçao do metro no ultimo sabado. Assim, foi um dos shows mais faceis de se chegar que eu ja fui na vida.

Ao chegar la, momento de raiva: no meu ingresso marcava lugar unico. Ok, fui feliz para a pista. Barrado. Havia outros tipos de ingresso. Detalhe que quando eu comprei so havia posto unico, nenhum outro tipo de ingresso. Como assim, outros tipos? Um italiano ficou batendo boca com o tal segurança. Eu resolvi ficar na minha e fui, com minha esposa, pra uma grade, la na arquibancada, ver o show. Apesar da distancia, era um bom lugar.

Os italianos sao empolgados vendo show. Nao gritam e pulam como nos brasileiros, mas sao empolgados. Participam da coisa. Levantam as maos, cantam, batem palma. Uma energia legal. Depois, voltei pra casa, de metro tambem. Antes da meia noite, ja estava na cama. Nada mal para um show em plena quarta-feira.

Enfim, valeu a pena. Divertido, um pouco infantil, tudo bem, mas que cumpriu o que prometeu. Dava pra levar tranquilamente minhas sobrinhas. Alias, o numero de familias presentes era imenso, muitos pais e maes com suas crianças. E as perucas, ah, as perucas. Foi engraçado ver o povo de cabelo rosa, azul e verde no metro. Quase um Carnaval.

Katy Perry tem show confirmado nesta ano no Brasil no Rock in Rio, na mesma noite de Rhianna. Quem puder ir, va. Eu recomendo.

24 fevereiro 2011

Minha linda Olinda

Minha avó morreu na última terça-feira, dia 22. Talvez, para alguns, um fato como este não signifique muita coisa. Para mim, significou, já que há muito tempo não perdia alguém que eu amava de verdade. Perdi meus dois avôs cedo, restando apenas as representantes femininas desta parte da família como referência. Uma, mãe da minha mãe, mora numa cidade do interior. A outra, mãe do meu pai, sempre morou mais perto – nos últimos anos, muito perto, na mesma rua que meus pais. E foi esta que se foi.

Muito por causa desta proximidade geográfica, acabei participando de muitas coisas da vida desta minha avó. Estive com ela nos últimos anos em diversos momentos, bons e difíceis. Levei-a diversas vezes ao médico e ao hospital. Visitei todas as vezes que ela ficou internada. Fui a todos os seus aniversários, sagradamente sempre comemorados com um bolinho e diversos salgadinhos no dia 28 de dezembro. Almocei em sua casa. Fui lá comer pizza e bater papo. Tá bom, não com a frequência que talvez ela gostasse, mas fui, e foram momentos ótimos, que guardarei para sempre.

Dona Olinda era uma ótima pessoa, mas tinha uma personalidade muito forte. Para ter uma idéia, nos últimos anos, demitiu quase uma dezena de empregadas que meu pai e meu tio contrataram para ajudá-la. Mesmo com mais de 80 anos, morava sozinha e fazia de tudo em sua casa. Dizia que podia dar conta do recado, que não precisava de ninguém mexendo nas coisas dela ou dando ordens para ela. Apesar disso, a cada duas ou três horas, ligava para o meu pai ou para o meu tio pedindo algo. Uma independência dependente de seus filhos, que a amaram muito e fizeram de tudo por ela.

Lembro que quando eu era pequeno, ela morava num apartamento junto com meu avô. Um apartamento todo arrumadinho, onde sempre tinha bala num pote sobre a mesinha de centro. Aliás, bala nunca faltou na casa da minha avó. Nos aniversários dela ou do meu vô, sempre tinha bolo, festa, comemoração. Dona Olinda tinha uma mão maravilhosa para cozinhar. Fazia gnocchi e capelletti na mão, um por um. O que eu mais amava era um bolinho de batata recheado com carne. Meu Deus! Que coisa maravilhosa, só de lembrar consigo sentir o sabor na boca e a saliva surge…

No meu casamento, ela estava lá. Toda linda. Com 87 anos de idade, fez até prova de maquiagem e cabelo. Isso porque era só um almoço. Ela estava feliz, muito feliz. Comeu muito, deu risada, nem sentiu a tal da dor na cabeça que a assombrava ha anos e tirava seu sossego. Tenho algumas fotos dela neste dia irradiante. Até revelamos uma e demos para ela, num porta-retrato, que até ontem estava sobre a sua mesinha na sala.

Ela adorava conversar. Eu ficava ali, ouvindo suas historias enquanto ela falava do passado, contava do meu pai, dos meus tios, do meu avô. E eu sempre ouvia, perguntava. Era o que ela queria, alguém para bater papo. Ela odiava que eu mexesse no seu cabelo. E eu, para azucrinar, mexia. Bagunçava tudo, e as vezes ela ficava brava. No fundo, acho que ela gostava da minha pentelhação. Nos últimos anos, a beijava sempre e dizia que a amava, toda vez que eu ia embora. E ela sempre dizendo que rezava por mim… Coisa boa.

Mas Dona Olinda se foi nesta terça. E como não acredito em coincidências, sei que ela sabia que iria. Quando a vi na última sexta-feira no hospital, ela repetiu diversas vezes que iria embora do hospital na terça-feira. Meu pai e meu tio a corrigiam, dizendo que seria quarta ou quinta, que era o prazo que o médico tinha dado realmente. E ela repetia: "eu vou embora na terça". E ela realmente se foi na terça...

Agora ela deve estar lá com o meu avô, o Seu Aldo, um filho de italiano que adorava o Palmeiras e tinha uma mão maravilhosa para fazer artesanato (assim como meu pai). Ela sentia saudade do meu avô. Sempre falava dele com muito carinho. Dava para ver e sentir a falta que ele fazia para ela. Também pudera, ela passou a vida inteira ao seu lado.

Sentirei falta da sua voz, da sua comida, da sua companhia. Até do grito de “Alo!” que ela dava no telefone, já que não escutava tão bem assim nos últimos anos. A conversa sempre era em alto e bom som (e estou falando literalmente desta vez).

Dona Olinda foi e ficou um pequeno buraco, mas também uma certeza de que ela está em um lugar bem melhor, sem dores e feliz, ao lado do homem da vida dela, olhando por todos nós. Como disse uma amiga minha, a tristeza naturalmente vai passar. Naturalmente. E o que fica são as boas lembranças e a saudade.

E eu aqui, a quilômetros e quilômetros de distância de todos estes acontecimentos, acompanhando tudo por telefone e Voip, triste mas com a certeza de que, no fim, o que sobra são apenas as experiências que vivemos, boas e ruins, e estas ninguém pode por a mão. São minhas, só minhas e de mais ninguém, guardadas a sete chaves nesta cabeça e neste coração. Isso talvez seja o que costumamos chamar de vida. E a minha teve esta participação mais do que especial.

Bom descanso, minha linda Olinda. Você merece.

27 janeiro 2011

O guspe da lhama

Ganhei uma mania: ler os comentarios das pessoas logo abaixo de noticias em sites como a Folha, Estadao e o Corriere, aqui na Italia. Os comentarios, alguns muitos espirituosos, digamos, sao interessantes e mostram a reaçao publica para as noticias publicadas – um bom termometro para saber o que as pessoas estao achando dos dias atuais… Nesta semana, li um que me fez rir muito, sobre o caso do cadeirante que supostamente foi agredito por um delegado no interior de Sao Paulo.

Para quem nao ouviu falar do caso, resumindo a historia, o cadeirante afirma que, apos protestar com um delegado que havia estacionado em um local destinado a portadores de necessidades especiais, foi agredido a coronhadas. O delegado, por meio de seu advogado, disse que somente deu dois tapas no cadeirante apos ser atingido por um guspe do mesmo.

Apesar da noticia ser tragica e o caso extremamente preocupante, pois traz a tona uma serie de questoes polemicas, o comentario de um leitor foi surreal: “este delegado quer nos fazer acreditar que nao era um cadeirante e sim uma LHAMA para consegui guspir tao longe”.

Fala sério, nao é para rir?

24 janeiro 2011

Nova lição no novo ano

2011 começou! Gostaria de contar para vocês uma pequena história que aconteceu na virada do ano de uma pessoa que eu conheço e amo muito. Ela é casada com um motorista de ônibus e tem três filhos. Combinou de pegar o ônibus que ele dirigia na noite do dia 31, por volta das 23h, para ir até a igreja que eles freqüentavam, onde ela passaria a virada do ano com seus filhos – o marido guiava o veículo e trabalharia normalmente até 1h do dia primeiro, ou seja, passaria a virada do ano dirigindo. E assim aconteceu, ela pegou o ônibus no horário combinado. Até ai, tudo bem, ela e seus filhos chegariam na igreja antes das 23h30, como planejado, e seu marido continuaria a viagem. Só que ela tomou uma atitude que mudou a noite. Ao invés de descer na igreja, prosseguiu no ônibus. Decidiu passar a virada do ano ali dentro, em família. Algo diferente, impensado, inesperado. Um clic dentro do cérebro dela que originou uma cena que ficaria perfeita no final de qualquer filme hollywoodiano. Na volta do trajeto do ônibus, desceu na igreja e ficou ali comemorando o novo ano e esperando seu marido, que depois de terminar a viagem e o expediente, iria buscá-la. Fiquei com esta história na cabeça, uma situação simples que ilustra bem aquilo que procuramos durante 365 dias do ano: momentos felizes. E não é preciso muita coisa para ser feliz, às vezes apenas tomar uma atitude inesperada. E assim colhemos mais um momento acertado e diferente para nossa história, como uma noite de Ano Novo dentro de um ônibus, mas ao lado de quem você ama. São momentos como este, de verdadeira felicidade, com um sorriso estampado no rosto e uma sensação de bem-estar no peito, que eu desejo a vocês neste ano que mal começou, mas que já me ensinou uma boa lição... 2011 promete!