26 julho 2011

Jack Johnson e a mudança de impressoes

Minha sensaçao nao era exatamente a mais positiva. Nem a primeira impressao. Assim que descemos do trem e começamos a caminhar a pé em direçao ao hotel, cerca de 1,5 km distante, comecei a ficar nervoso naquela pequena cidade.
A estaçao de trem nao ajudava muito. Depois, algumas pequenas ruas, que cortavam os bairros residenciais, que era um atalho até chegar ao tal unico hotel que consegui descobrir no lugar. Começamos a caminhar e, depois de poucos minutos, cruzamos com um senhor, que nao sabiamos se estava bebado ou se era louco, mas que começou a gritar coisas confusas e indecifráveis enquanto nos seguia. Apertamos o passo e chegamos, depois de 20 minutos cravados, ao nosso mega hotel.
Depois dos procedimentos de check-in com uma recepcionista muito simpatica (nao estou sendo ironico, ela realmente era uma pessoa educada), largamos as coisas no quarto e saimos. O hotel era modesto mas funcional, apesar da distancia do centro da cidade e da estaçao. Limpo, com quarto espaçoso e estacionamento – que para nos, nao fazia muita diferença, ja que, como voce ja percebeu, estavamos a pé.
E a pé fomos para o centro da cidade. Mais 20 minutos de caminhada pela principal rua. Domingo a tarde, tudo fechado, nenhuma alma. E a tal ma impressao inicial continuava ali, firme e forte. Que cidade estranha! E tinha recebido tantos elogios e referencias… Sera que estava no lugar errado? E todos os turistas e visitantes que deveriam estar ali abarrotando as ruas?
Enfim, apos passar por um simpatico parque, nao tao grande, mas com um laguinho, cheio de patos, gansos e afins, chegamos ao tal centro. Ai a primeira impressao que tivemos começou a se desfazer. O lugar, formado por uma enorme praça ao lado do famoso castelo da cidade, era fantastico. Lotado de gente, era cheio de lojas, cafés e ruinhas com transito bloqueado para carros. Sentia-me num parque de diversoes, sabe Hopi Hari? Pois é. Tudo perfeitinho, arrumadinho, bonitinho, com flores e pessoas elegantes passeando. O dia ajudava muito, com um sol que nem esquentava demais e nem deixava esfriar, além de um céu azul daqueles de fazer pular de alegria qualquer diretor de fotografia de filme.
O nome da cidade: Vigevano. E por que estavamos ali? Por uma simples e otima razao: um show do Jack Johnson!
Como voce percebeu, foram muitos pequenos sacrificios para ver Jack domingo passado. Alem da posiçao nada estratégica do hotel e também os horarios malucos que tivemos que fazer em plena segunda-feira (caimos da cama as 5h da madrugada!), caminhamos muito nestes dois dias. Mas valeu a pena, e como valeu.
Primeiro, pelo lugar do show. Um castelo! Isso mesmo, foi a primeira vez que vi um show num castelo. E parecia também que era a primeira vez que Jack e sua trupe cantavam em um. O local nao era nada parecido com os castelos que temos na nossa imaginaçao – e nem se parece com outros, bem reais que ja tive a oportunidade de conhecer pessoalmente. Este, de Vigevano, esta bem corroido e mau cuidado. Janelas enormes viararam apenas buracos, sem vidros nem nada. 

O show foi no patio interno, parte de um festival que trouxe para a cidade outros nomes internacionais, como o Black Crowes. Entramos ali por volta das 18h30 e ficamos esperando – o show começaria mesmo so tres horas depois. Neste meio tempo, o sol se foi e chegou um vento forte, fazendo muita gente, incluindo a gente, bater os dentes de frio.
Como show de abertura, uma boa surpresa: Kaki King. Nunca tinha ouvido falar dela, mas me chamou a atençao pela forma como ela consegue domar guitarras e violoes. Fantastico! Tudo bem que, depois de 10 minutos, se tornou meio cansativo.
As 22h, mais ou menos, surgiu Jack Johnson. Sem grandes produçoes, simplesmente subiu ao palco, seguido de sua banda. Assim, simples. Uma da primeiras musicas foi “Taylor”, do seu segundo album, “On and On”. E me ganhou naquele momento. Eu e todo mundo que estava ali. Divertido ver tanta gente cantando suas musicas, até as mais desconhecidas. Muito marmanjo da minha idade, a grande maioria acompanhado de suas respectivas garotas (namoradas, rolos, esposas e afins), dançando, batendo palmas, feliz. O clima era de festa, e eu cai de cabeça nela.




Ha cinco anos que tinha vontade de ver um show do Jack Johnson. Quando ele se apresentou pela primeira vez no Brasil, nao consegui ir… Neste ano, quando descobri que novamente ele faria uma serie de apresentaçoes na America do Sul, fiquei desconsolado por, mais uma vez, nao poder ir, desta vez por um pequeno detalhe geografico: um oceano nos separava.
Eis que, alguns dias depois, descobri este show em Vigevano. Corri e comprei o ingresso, tres meses atras. Desta vez, eu iria. Nao sabia como chegaria na cidade, nem como me viraria depois, ja que estou sem carro e a apresentaçao era num domingo a noite. Mas, pensei, damos um jeito! Sabe aquela coisa do universo conspirar, pois è, foi tudo perfeito.
Curto Jack ha muito tempo, desde que seu hit “Times like these” bombou no Brasil por volta de 2004. Depois disso, viciei em seu trabalho. Por um simples motivo: as musicas de Jack Johnson sao como bombas de endorfina. Independente do que esteja acontecendo, se escuto, tudo passa e fica bem. Sou subitamente sequestrado e jogado numa praia, num clima de festa, tranquilidade, paz de espirito. Quer coisa melhor?
E foi tudo isso que senti no seu show. Nao rolou “Times like these”, mas tantos outros sucessos como “Upside down” e “If I had eyes” estiveram presentes. “Better togheter” encerrou a apresentaçao, na sua volta para o bis, onde apareceu no palco sozinho, sem seus amigos – que, alias, também mandam muito bem. O seu tecladista, Zach Gill, è um showman. Canta, toca, dança e empolga a plateia, com um ar de tio mais velho, daqueles que voce sempre torce que va na sua casa (tomara que eu vire um assim…).
Com o tal castelo de cenario de fundo, uma noite absurdamente estrelada e uma plateia nao muito abarrotada, o show foi, sem duvidas, um dos melhores que vi na vida. Indicio 1: ao contrario do que geralmente acontece, nao fiquei impaciente quando ele tocou musicas que eu nao conhecia, mais recentes, simplesmente porque também eram otimas e mantinham aquele climao alto astral. Indicio 2: mesmo tendo que andar tanto, me banhar de Autan para enfrentar nuvens de pernilongos e cair da cama em plena segunda-feira as 5 da madrugada, estou ainda me sentindo absurdamente feliz.
Jack è um cara bacana. Doou todo o lucro desta sua turne para alguns projetos. Diz ja ter dinheiro suficiente para ele e sua familia. Este seu jeito leve, e ao mesmo tempo engajado, de encarar e levar a vida se reflete nas suas musicas, no seu show. Ah, ainda nao falei que ele estava de chinelo no palco? Por alguns longos minutos, parecia que eu estava em alguma praia, longe de qualquer problema, eu e minha garota. Faltavam apenas os amigos e a familia.
Foi um domingo bacana. E a ma impressao que tive ao chegar em Vigevano se dissipou, como nuvens que vao embora depois da tempestade. Talvez eu nunca mais retorne ali ou mesmo nunca tivesse cogitado a ideia de visitar esta cidade se nao fosse por Jack Johnson, mas ainda bem que tive esta desculpa.
A primeira impressao é a que fica? Nem sempre.