24 maio 2006

Aviões abatidos

O texto abaixo eu escrevi já há algum tempo, mas acho que ele continua bem atual...

"O que fazer da vida sem ser avião?". Esta frase, num contexto qualquer, não teria sentido algum. Mas, para os moradores de diversas favelas espalhadas pelo Brasil, essa é a lei que impera: a do destino que empurra crianças e adolescentes para a marginalidade. Avião, para os devisados, são aqueles que fazem o vai-e-vem de drogas dentro das favelas, trabalho geralmente realizados por crianças. Mas como toda regra, esta também tem suas exceções. E é nesse jogo de lei e contravenção que Fernando Meirelles e Kátia Lung dirigiram o curta Palace II.

Neste filme, dois garotos moradores de um morro no Rio de Janeiro armam diversas situações para conseguir dinheiro. O cenário é uma favela carioca, cercada por traficantes, drogas e armas. Tudo muito real, tudo muito nefasto, como o nome de um dos marginais do local, uma espécie de ídolo para um dos meninos. Entre a dúvida de virar ou não um avião na favela, eles refletem: ganhar em um dia o que o pai deles demora um mês pra levar pra casa. Tentador não?

E é entre tentação e relutância que o curta se desenrola. O projeto deu tão certo que foi exibido pela TV Globo e deu origem a uma série, Cidade dos Homens, exibida também pela televisão. Aqui vale lembrar que tudo começou com Cidade de Deus, filme que levou milhões de brasileiros às salas de cinema, escancarando as mazelas da vida dos morros cariocas. Até os atores mirins, moradores da favela, são os mesmos do longa. Isto nos leva a pensar que, pelo menos na vida real, duas exceções existiram.