16 setembro 2007

Lula, a Evita brasileira?

Juro que não escrevi este título para causar polêmica, comoções ou qualquer outra coisa do tipo – até porque estou longe de ser um especialista em política, seja brasileira, argentina, norte-americana, marciana ou de qualquer outro lugar. Apenas fiz esta comparação pois foi nesta conclusão que cheguei ao terminar de ler o livro "Eva Perón – a madona dos descamisados", da jornalista argentina Alicia Dujovne Ortiz.

Comprei o livro há mais de cinco anos, mas nunca cheguei a ler. Como neste ano tive a oportunidade de conhecer Buenos Aires, usei a viagem como desculpa para me obrigar a desvendar a biografia de uma das personagens mais célebres da Argentina. Queria estar mais "por dentro" da história dos nossos vizinhos portenhos – e o livro foi um ótimo comitê de boas-vindas.

Já conhecia um pouco da história de Eva Perón por meio do filme "Evita", estrelado por Madonna e Antonio Banderas. Como sou fã de musicais, o filme acabou entrando para o meu rol de títulos preferidos – tenho até o DVD e o CD com a trilha sonora! Mas, ao ler o livro, percebi que a história foi mudada, até para dar um ar mais palatável e, digamos, vendável ao grande público.

No livro, pelo contrário, a autora muitas vezes preocupa-se em apresentar as diferentes versões do mesmo fato, baseada sempre em outros autores. É possível perceber a paixão e o ódio que Evita causa nos argentinos – sentimentos que pude presenciar em Buenos Aires. O amor tornou-se real nas homenagens pregadas no túmulo no Cemitério da Recoleta e no Museu Evita, em Palermo, com uma Eva Perón santificada, mãe dos pobres. Já o ódio surgiu no discurso do taxista que me levou até o Museu Evita: segundo ele, por causa dela a Argentina estava na situação atual de crise e pobreza, por se preocupar apenas com coisas supérfluas e deixar o essencial para depois. Com qual versão eu concordo? Estou longe de chegar à uma conclusão.

Misturando estes sentimentos, de ódio e paixão simultâneos, e guardadas as devidas proporções, cheguei à comparação com nosso presidente. Um homem amado principalmente pelos pobres por sua história e garra, mas detestado por uma grande parcela da população, acusado de estar rodeado de pessoas nem tão bem-intencionadas assim...

Evita queria tudo do bom e do melhor para seus "descamisados": lençóis com os melhores tecidos, férias na praia, o sonho de uma máquina de costura! Lula é mais simples em seus desejos: em seus discursos, prega que todos os brasileiros tenham, no mínimo, dignidade. Ambos são movidos em suas trajetórias por uma sede de mudança, tentando proporcionar a seus "semelhantes" aquilo que conseguiram a duras penas.

Entre críticas e elogios, estes dois personagens, com certeza, guardam milhões de semelhanças e diferenças – a principal delas é que Evita morreu com apenas 33 anos, em seu auge como primeira-dama, mas não no máximo que poderia ter chegado. Lula foi mais longe: chegou no topo, presidente do Brasil.

Seria muita pretensão da minha parte querer continuar com estas comparações aqui neste blog ou aprofundar o tema. Como disse, não sou nenhum especialista em política e não estou nem um pouco afim, neste momento, de criar polêmicas sobre duas figuras tão importantes como Lula e Evita. Apenas quis deixar registrada aqui esta minha impressão, até mesmo um devaneio.
E por falar em devaneio, quem sabe daqui a alguns anos não tenhamos um super musical sobre a história do Lula?