09 maio 2007

Um passeio pisca-pisca pela língua portuguesa

Tá bom: podem brigar comigo! Há alguns dias que eu não passo por aqui, mas não é desculpa: o tempo anda meio escasso (e a conexão discada aqui de casa muitas vezes não ajuda...). E olha que eu tenho tanta coisa para contar... Para começar, vou falar sobre a Páscoa. Digamos que ela foi um tanto quanto cultural. Além de visitar o Museu da Língua Portuguesa e a Pinacoteca no sábado, assisti quatro filmes: o "oscarizado" Os Infiltrados, a comédia A Pantera Cor-de-Rosa, o confuso Camisa de Força e o mais confuso ainda Vanila Sky. Mas, prometo que volto em breve para falar sobre estes filmes e a Pinacoteca. Hoje eu vou me deter na minha visita ao Museu da Língua Portuguesa.

Já tinha prometido um passeio por lá desde que ele tinha sido inaugurado. Consegui ir somente agora, um ano depois. E confesso que gostei da experiência. A imagem que eu sempre tive da Estação da Luz, em São Paulo, era suja, mal iluminada, entupida de gente que precisava se espremer para conseguir um lugar no vagão do trem (já freqüentei várias vezes aquele lugar). Mas, tomei um susto ao ver que, dentro daquela estação restaurada e, por que não?, linda, encontra-se um museu maravilhoso, lotado de gente. Isso mesmo: lotado! Se pensamos que no Brasil as pessoas não gostam de cultura, estamos enganados. Cheguei a conclusão de que o que nos falta é opção de diversão.

Uma rápida explicação sobre o museu: ele fica ao lado da Estação da Luz, em São Paulo. Três andares, além do térreo. O primeiro é onde ficam as exposições temporárias. Acabaram de desmontar uma sobre Grande Sertão Veredas, do Guimarães Rosa (que seguiu para o Rio de Janeiro) e, em breve, lançarão uma nova sobre Clarice Linspector. A movimentação de pessoas por ali era enorme! No segundo andar é possível dividir-se entre dois painéis: um gigante, de 106 metros de comprimento, onde ficam passando vídeos sobre a língua e suas expressões e outro sobre a história do português. Também existem algumas estações espalhadas, onde se pode interagir com touch screen e alto-falantes (não consegui me sentar em nenhuma desta estações – tudo lotado!). No fundo deste pavimento, há um lugar onde você junta sílabas, formando palavras. Pode parecer meio bobo, mas não é, já que se trata de uma tela onde as palavras ficam flutuando e, ao formar a palavra, ela se transforma numa TV e exibe um vídeo. Show! Confesso que fiquei lá pelo menos uns 10 minutos, brincando de formar palavras...

No último andar fica um auditório, onde é exibido um filme sobre a língua portuguesa com narração da Fernanda Montenegro. Depois se passa a um outro espaço (não vou contar como para não estragar a surpresa) e uma enxurrada de poemas e textos é derramada. Dos mais diversos autores. Um dos que mais me chamou atenção foi um trecho do livro Memória de Emília, do Monteiro Lobato, que eu ralei para achar na internet, mas achei. Vejam:

"A vida, Senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem para de piscar, chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos - viver é isso. É um dorme e acorda, dorme e acorda, até que dorme e não acorda mais.

[...] A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso. Um rosário de piscados. Cada pisco é um dia. Pisca e mama; pisca e brinca; pisca e estuda; pisca e ama; pisca e cria filhos; pisca e geme os reumatismos; por fim pisca pela última vez e morre.

- E depois que morre? - perguntou o Visconde.

- Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?"

É, Emília, é.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Eu adoro o Museu da Língua Portuguesa! É muito massa. Fui duas vezes quando estava a exposição do Grande Sertão Veredas e estou ansiosa para ver o do Clarice Lispector.

1:12 PM  

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